5 - Baixa Velocidade
Falei um pouco sobre as mini ondas e também sobre baixa velocidade na segunda parte dessa série de posts, mas aqui vou me aprofundar um pouco mais no assunto, principalmente na baixa velocidade.

Praticamente todos os cursos básicos de fotografia ensinam a fazer um “panning”, técnica para fotografar objetos em movimento tentando acompanhar esse movimento com a câmera. A idéia é que o objeto central da foto fique “congelado” e os outros planos fiquem em movimento e para isso é essencial usar baixas velocidades no obturador, que vão permitir o movimento com a câmera e dar o efeito diferente do “panning”. Isso é muito legal para fotografar corredores, ciclistas e até carros, mas eu acho ainda mais legal fotografar surfistas com o panning. O resultado pode ser meio frustrante e alguns bons momentos se perdem graças a baixa velocidade ( já que se o movimento não for muito bem acompanhado pela câmera a foto pode ficar borrada demais ) e “fotojornalisticamente” falando, isso não é nada bom. Mas para quem procura um diferencial nas imagens, pode ser o tiro certo.
Fiz algumas imagens de surfistas em baixa velocidade e até hoje ainda faço, mas uma virada de chave na minha fotografia veio quando comecei a explorar as ondas e texturas do mar. Enquanto fui criando essa afinidade e intimidade com esse tipo de fotografia, parecia que cada vez mais me distanciava de qualquer outro padrão de fotografar. Me vi em uma busca quase obsessiva não por um momento “perfeito” ou mesmo por qualquer algo específico, estava ( estou ainda ) buscando a variedade. Quero explorar o máximo possível de combinações de luz, texturas e ondas, e para isso, somente indo fotografar em diferentes ocasiões. De uns anos para cá, busco essas imagens como se colecionasse elas ( talvez por isso tenha dado o nome de uma de minhas séries de quadros de “Colecionáveis” ), e quando olhei para mim, percebi o quanto essa busca pode me completar. Fotografar se tornou um hábito silencioso e de muita paz. Nos horários que vou a praia costuma estar vazia ou deserta, e posso interagir com o mar sem muitas preocupações de interferências, é uma conversa bem direta.
Esse foi um momento que percebi o quanto a fotografia também serve para buscas pessoais, a compreensão de pequenos atos que podem ser muito importantes em sua vida. Talvez seja a fase que eu esteja mais imerso em minha fotografia, e menos imerso na fotografia em geral. Nunca estive tão focado em um tema, e isso, por mais que possa parecer limitante, é bastante esclarecedor, se esse processo tiver fundamento e sentido. Estude fotografia, mas também se estude, estude o mar, as outras pessoas e tudo que está ao seu redor, isso também é fotografar.
Essa fase também me deu uma grande independência, e percebi como isso se encaixa bem na minha linguagem fotográfica. Não estava mais tão preso aos surfistas ou as condições chamadas “clássicas para o surfe”, qualquer ondinha me serve, e isso possibilitou uma imersão ainda maior nesse mundo imagético.
Foi e está sendo uma fase interessante e produtiva na minha fotografia que além de tudo, está me permitindo diversas reflexões como essa, que faço aqui.
Acho que a fotografia é realmente feita de fases, que vão se complementando e sempre nos tornando melhores. Ou melhor, nós somos feitos de fases, e a nosso fotografia reflete isso.
Todas as fotos desse post foram feitas no ano de 2021 na praia do Leme, Rio de Janeiro.
Links para as outras partes desse texto ( que não necessariamente precisam ser lidas juntas ):
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