É uma pergunta que inevitavelmente também me faço as vezes.
Tirar fotos de surfe e do mar com a velocidade do obturador bem baixa é arriscado. Mas tem recompensas. Antes de tudo, acho importante explicar brevemente do que se trata isso. O obturador é uma parte mecânica da câmera fotográfica, como se fosse uma cortina sólida que fica a frente ao sensor digital ( substituto dos filmes ). Assim o obturador é um limitador entre o que entra pela lente e o que vai ser realmente registrado. Se não houvesse obturador estaríamos constantemente registrando luz a partir do momento em que se tira a tampa da lente. Ele então controla a entrada de luz ao “tempo de uma foto”.
E qual é o tempo de uma foto? Isso depende de alguns fatores, mas basicamente o obturador está lá para defini-lo. Você pode regulá-lo para expor o sensor por 1/1000 de segundos ou até por 30 segundos, e muitas outras variadas frações do tempo. Consequentemente controla o quanto de luz vai entrar naquele quadro. Um obturador que se move mais devagar, vai superexpondo a imagem conforme sua demora. O mesmo acontece, só que ao contrário, com fotos que congelam frações milésimas do segundo, mas captam cada vez menos luz.
Junto com o obturador, existem outras variáveis para se regular uma foto, mas o meu foco é nele.
Na ação do obturador e suas variações de velocidade, ao mesmo tempo que a foto fica mais clara ou não, outro efeito acontece. Os movimentos dos objetos, ou até da própria câmera, são captados de modo diferente. Normalmente, o surfe, por ser muito dinâmico ( o próprio mar já se move em uma velocidade considerável ), requer velocidades elevadas do obturador. Parto do principio de que abaixo de 1/500 de segundo já se torna arriscado para congelar perfeitamente toda a ação com uma lente tele.
Mas pode-se contrariar essa “regra”, assumindo menos nitidez e mais movimento nas fotos. Com velocidades bem baixas no obturador, o surfista e o próprio mar ganham diferentes contornos. Normalmente uso entre 1/20 e 1/5 de segundo, dependendo do que regular melhor com a luz e o movimento, mas não existe receita de velocidade, é uma questão de sentir até aonde a foto ainda consegue alguma leitura . E é um trabalho bem experimental, e também repetitivo. As vezes, a baixa velocidade te faz perder um pouco do controle da situação em um momento crucial da onda. É bom repetir, fazer seqüências, para garantir algum momento interessante.
Mas esse toque de aleatoriedade é um motivador. Acrescentar mais uma variante a um cenário que já possui algumas é multiplicar as possibilidades.
Já fiz duas séries de fotografias do mar ( Vestígios e Atemporal ) usando bastante essa técnica e os resultados estão acessíveis aqui.
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